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Os desafios da Web 3.0 para as empresas brasileiras
A Web 3.0 torna possível aquele que era o sonho quando a internet foi inicialmente construída: possibilitar que qualquer pessoa participe e gere renda sustentável sem ser censurada ou dominada por jogadores mais proeminentes.
O mundo evolui de forma tão dinâmica que muitas vezes não percebemos que transcendemos várias gerações de uma tecnologia.
Você se lembra da primeira vez em que ouviu falar do termo web, ou internet? É assustador pensar que, para a maioria das pessoas, esses conceitos foram introduzidos na linguagem cotidiana em 1994, ou seja, há quase 30 anos, com a chamada Web 1.0.
A Web 1.0 surgiu no final dos anos 1980 e marcou o início de tudo: naquela época, os sites eram simples, estáticos, com muito texto e alguns hyperlinks. A maioria das páginas pertencia a empresas e veículos jornalísticos, pois criar um website era algo muito complicado, inacessível para a maior parte das pessoas.
Além disso, navegar nessas páginas era algo muito passivo, semelhante a assistir TV e ou ouvir rádio, os principais veículos de entretenimento e de informação na época. E ainda tinha um complicador: o acesso à rede era feito por modens de linha discada.
Web 2.0
A segunda versão da internet, chamada Web 2.0, começou por volta dos anos 2000, quando se iniciou um movimento de levar o usuário para dentro do mundo virtual. As pessoas deixaram de ser meras espectadoras para se tornarem produtoras de conteúdo, interagirem entre si, construírem redes de contatos. Foi a era da blogosfera, dos chats, das mensagens instantâneas, das redes sociais, da descentralização dos serviços, dos apps e do armazenamento de dados na nuvem.
Web 3.0
A Web 3.0 está em pleno desenvolvimento, e deve manter o advento as redes sociais. A tendência, no entanto, é que elas passem a ter um protagonismo maior do que na versão anterior. Se antes as plataformas eram usadas para entretenimento descompromissado, para impulsionar vendas ou para fortalecer a reputação digital de marcas, agora as mídias sociais estão adotando um caráter de dependência social.
Um fator interessante dessa internet é a relação de posse de bens digitais. Exemplo disso são os tokens não fungíveis (NFTs), que concedem propriedade sobre obras artísticas, músicas, colecionáveis e até itens de jogos. Com o anúncio do Metaverso pelo antigo Facebook (hoje, chamado Meta), esses itens virtuais parecem ter ganhado ainda mais destaque, e uma casa nesse mundo digital pode custar milhões de dólares.
Essa nova web é marcada por três grandes conceitos:
- Descentralização: independência de bancos, órgãos governamentais, fronteiras demográficas ou tecnologias de empresas.
- Privacidade: evitar a exposição de dados pessoais, incômodo com rastreamento e fuga das publicidades direcionadas.
- Virtualização: fortalecimento de mundos digitais e reprodução de experiências realistas de modo virtual.
As origens
O termo Web 3.0 foi acunhado pelo engenheiro britânico Gavin Wood, conhecido mundialmente por ser o "pai do Ethereum", a segunda criptomoeda digital mais popular do mundo. Ele foi o criador do projeto de código aberto Polkadot, de onde surgiu a arquitetura para a descentralização de serviços que originou a blockchain. Criou também o Web3 Foundation, que tem como objetivo financiar equipes de desenvolvimento que constroem as bases dessa nova internet.
Embora esteja associada às criptomoedas, apontadas como as sucessoras do dinheiro físico, a blockchain terá um papel fundamental na web futurística, já que a tecnologia permite a criação de blocos para o trânsito de cadeias de dados de modo seguro, anônimo e independente. Aliás, já existem estudos voltados para o uso da tecnologia para as transações financeiras, segurança corporativa e governança, tanto de empresas quanto de órgãos governamentais.
Tudo isso deve ajudar na chamada descentralização: em vez de guardar arquivos em servidores da Amazon ou do Google, o usuário começará a armazená-los em sites criados para operar em redes da blockchain. Um exemplo disso é o fenômeno das propriedades via NFTs, no qual as pessoas armazenam tokens, itens e ativos em carteiras próprias.
Com a chegada da web 3.0, novas palavras também são adicionadas ao glossário, entre elas:
Criptomoedas – O bitcoin e depois o Ethereum foram as primeiras aplicações construídas sobre blockchain. Foram pensadas para funcionar exatamente como dinheiro (moedas fiduciárias). Aos poucos, vão ser aceitas como meios de pagamento.
Token – qualquer bem que possua valor de mercado, como um objeto, contrato, moeda, ou até mesmo uma propriedade, pode ser transformado em token, ganhando uma representação de valor digital.
NFTs – sigla em inglês para tokens não fungíveis, ou seja, únicos. É como se toda e qualquer moeda tivesse um aspecto que a diferencia e, por isso, a tornasse única. Os NFTs já estão sendo utilizados por artistas gráficos, artistas plásticos, músicos e colecionadores, entre outros.
DeFi – significa finanças descentralizadas, o que vem acontecendo por meio das criptomoedas e dos tokens, que emulam as funções do sistema financeiro tradicional por uma fração do custo e com muita agilidade. Se em 2020 havia US$ 10 bilhões alocados em smart contracts, quase dois anos depois a quantia pulou para US$ 100 bi, segundo a The Economist.
DAOs – empresas descentralizadas, ou seja, sem conselho de administração ou CEOs. Elas serão empresas de gestão compartilhada, nas quais todas as pessoas que atuam terão direito a voto na proporção de tokens que detiverem.
DApps – são aplicativos descentralizados, que funcionam com blockchain e, por isso, desafiam a lógica atual da internet de guardiões de dados. Já tem uma loja desses aplicativos, chamada de Dapp Radar.
Com todas as informações descritas anteriormente, surge a pergunta: o que as empresas brasileiras devem considerar para entrar na Web 3.0? Aqui estão alguns pontos:
- É impossível censurar
- Não há propriedade ou poder centralizado
- Os novos ingressantes são ilimitados, então não é preciso lutar com gigantes para ter seu espaço
- Mais concorrência, barreiras menores e entrada fácil para todos
- As ferramentas para desenvolvedores da Web 3.0 são feitas pela comunidade
- As plataformas de rede são públicas por padrão
Quais são as áreas de oportunidade?
Os recursos colaborativos e de segurança tornam a Web 3.0 praticamente aplicável a todos os tipos de empresas, mas veja a seguir algumas situações em que a sua aplicação faz toda a diferença:
- Com a blockchain e a Web 3.0, os produtores de matéria-prima e as empresas que fabricam produtos podem facilmente comprovar a origem de seus produtos, pois a blockchain oferece registros de movimento de mercadorias com carimbo de data/hora e rastreáveis. Isso dá mais segurança aos varejistas e fornecedores de logística da cadeia e ainda melhora drasticamente os processos de recall.
- Na Indústria de mineração, é possível usar a blockchain para rastrear materiais na cadeia de valor, literalmente, desde os blocos até o concentrado e o metal (por exemplo, barras de ouro). O cliente final consegue ver os valores em etapas para verificar as origens do material.
- Na segurança da propriedade intelectual, pois a blockchain oferece armazenamento descentralizado de informações para proteger contra adulterações. Ela armazena os dados cronologicamente, e todos na blockchain podem verificá-los. Além disso, com assinaturas digitais e criptografia de chave privada-pública, os usuários não precisam revelar suas identidades —o pseudonimato é outra característica essencial da blockchain.
Em resumo, a Web 3.0 torna possível aquele que era o sonho quando a internet foi inicialmente construída: possibilitar que qualquer pessoa participe e gere renda sustentável sem ser censurada ou dominada por jogadores mais proeminentes.