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O impacto da inteligência artificial na educação

É preciso que as instituições de ensino se adequem e estejam preparadas para extrair os melhores frutos dessa tecnologia, oferecendo ao corpo discente experiências de aprendizagem mais acessíveis e que atuem como equalizadores, permitindo uma aprendizagem mais otimizada e inclusiva.

A utilização da inteligência artificial (IA) vem se consolidando em diversos setores da economia. Para se ter uma ideia, segundo o estudo “Trust in Artificial Intelligence”, desenvolvido pela consultoria KPMG, 56% da população brasileira demonstra aceitação com relação às tecnologias artificiais.

No segmento educacional, isto não poderia ser diferente. Atualmente, as instituições de ensino já dispõem de serviços e plataformas educacionais com o uso de IA, a fim de gerar uma aprendizagem ainda mais personalizada por parte dos estudantes e extrair dados valiosos que colaboram para a otimização desse processo.

No entanto, ainda há muito o que amadurecer com relação à esta temática na educação, tendo em vista que é preciso compreender a IA em todas as suas frentes, desde o seu uso ético, até o desenvolvimento de competências digitais para a vida dos estudantes.

A inteligência artificial aplicada no contexto de educação

No campo docente, sempre foi explícito a necessidade de enxergar cada estudante em sua individualidade, mas nem sempre foi possível. A possibilidade que se tem hoje, por meio da IA, de contar com parâmetros muito fidedignos do perfil do corpo discente, permite aos professores elaborarem trilhas de aprendizagem específicas de forma instantânea, aplicando-as em atividades, provas e simulados online.

Esta utilização também transforma a própria dinâmica de aprendizado do estudante, que pode acompanhar e fazer a gestão de seu próprio estudo, ganhando autonomia para intensificar seus esforços onde possui mais vulnerabilidade, adaptando-se ao conteúdo do curso e avançando de acordo com o seu próprio ritmo.

Outro ponto positivo é que a IA também oferece a capacidade de fornecer feedbacks em tempo real aos estudantes sobre seu desempenho, além de sugerir recursos complementares com base em seu histórico, tornando a sua jornada de aprendizagem mais relevante e envolvente.

A aprendizagem personalizada também é facilitada por chatbots e assistentes virtuais, que oferecem suporte 24h por dia aos estudantes, fornecendo explicações e respostas às dúvidas. Essa abordagem não apenas os auxilia a superarem obstáculos, mas também os motiva a se tornarem aprendizes mais autônomos e eficazes.

Ademais, a inteligência artificial tem o potencial de tornar a prática pedagógica mais acessível a todos, o que é especialmente benéfico para aqueles com estilos de aprendizagem únicos ou necessidades especiais. Desta forma, com a IA, é possível oferecer legendas automáticas em vídeos para estudantes surdos, tradução instantânea de conteúdo para estrangeiros e, até mesmo, personalização com relação à acessibilidade para estudantes com deficiências.

Desafios da IA na educação

A capacidade da inteligência artificial em analisar conjuntos de dados educacionais que incluem o desempenho dos estudantes, as taxas de retenção, os resultados de avaliações, bem como as interações nas práticas pedagógicas, podem apoiar as instituições de ensino a identificarem padrões e tendências. a fim de entender o que pode ser aprimorado em seus currículos e métodos.

No entanto, quando se trata da coleta e análise de dados dos estudantes, a IA pode ser desafiadora, uma vez que, em determinados casos, ameaça a privacidade individual e isso envolve não apenas os dados acadêmicos, mas também informações comportamentais e biométricas.

Nesse sentido, é imperativo que as instituições adotem rigorosas medidas de segurança e proteção de dados, além de estabelecerem políticas que garantam que os estudantes tenham controle sobre suas informações pessoais, algo que já é regularizado pela LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

Outro desafio ético significativo é o viés algorítmico. Isto porque, os algoritmos de IA podem aprender com dados com os quais são treinados, resultando em recomendações e decisões tendenciosas e, ainda, informações infundadas ou falsas. Portanto, é essencial que haja ética e curadoria nos conteúdos ofertados pela IA.

Por último, mas não menos importante, é preciso abordar o risco de uma dependência excessiva da IA por parte dos estudantes. Por isso, a prática pedagógica deve continuar a promover habilidades humanas essenciais, como pensamento crítico e resolução de problemas, em vez de direcionar passivamente os estudantes por meio de algoritmos.

 O papel dos educadores

Abordar esses desafios de forma ética e responsável é fundamental para garantir que a IA seja uma aliada na aprendizagem dos estudantes. Do lado dos educadores, é preciso se preparar constantemente para extrair o máximo dos benefícios das ferramentas de inteligência artificial, por meio de pesquisa, formação, colaboração, aprendizagem contínua e compartilhamento de melhores práticas.

É crucial, sobretudo, encontrar um equilíbrio entre o uso da inteligência artificial e abordagens pedagógicas tradicionais que promovam o desenvolvimento dessas habilidades. Nesse contexto, a IA deve ser vista como uma ferramenta complementar ao papel dos educadores, prezando pelo aprimoramento da experiência de aprendizagem, em vez de substituí-la.

Já do lado das famílias, ainda se observa uma variedade de reações à crescente presença da Inteligência Artificial na educação de seus filhos. Alguns mostram-se entusiasmados com as oportunidades que a IA oferece, como a personalização da aprendizagem e o acesso a recursos educacionais avançados, vendo essa tecnologia como uma ferramenta que pode melhorar o desempenho acadêmico e o envolvimento dos estudantes. No entanto, outros expressam preocupações, especialmente relacionadas à privacidade dos dados e à dependência tecnológica.

Em suma, de uma maneira ou de outra, a IA na educação já é uma realidade. Por este motivo, é preciso que as instituições de ensino se adequem e estejam preparadas para extrair os melhores frutos dessa tecnologia, oferecendo ao corpo discente experiências de aprendizagem mais acessíveis e que atuem como equalizadores, permitindo uma aprendizagem mais otimizada e inclusiva.

Sobre a autora: Graziele Cestarolli Ortega é analista de Tecnologia Educacional da Rede de Colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição à uma proposta educacional disruptiva e alinhada às principais tendências do mercado de educação.

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