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Futuro incerto para os funcionários de TI

Dado o atual ambiente macroeconômico, algumas empresas estão fazendo ajustes, o que em alguns casos significa que certas funções não são mais necessárias. No Brasil, a demanda por profissionais de TI continua alta, mais o problema é a falta de preparo técnico.

Fim de ano é época de ajustes. Assim como muitas pessoas, as empresas avaliam os resultados do ciclo que está terminando, traçam metas para o ano que vai começar e fazem as mudanças necessárias para atingi-las.

No setor de tecnologia, em 2022, estes ajustes têm resultado em cortes de pessoal significativos, o que acaba gerando medo e incerteza nos profissionais da área. Basta uma olhada rápida no LinkedIn para se deparar com uma infinidade de profissionais de TI em busca de “novos desafios ou oportunidades".

Não teria como ser diferente: a Amazon, por exemplo, fez sumir, em um só movimento, 10 mil empregos, mesmo número de demissões anunciadas pelo Google em novembro. E as duas gigantes não estão sozinhas: outras empresas do setor, como Twitter, Meta, Coinbase e Snap também promoveram cortes, embora em menor escala.  

Segundo o site Layoffs.fyi, que monitora os cortes de empregos nas empresas de tecnologia, mais de 120 mil vagas foram extintas em todo o mundo.

Por que as empresas de TI estão demitindo?

São vários os motivos que levam as empresas a cortar funcionários, mas no setor de tecnologia, o mau planejamento tem se revelado a principal causa. Nos últimos dois anos, a demanda por mais serviços online fez com os negócios dos gigantes da tecnologia crescerem, e os executivos acreditavam que os bons tempos continuariam.

A Meta, por exemplo, que havia contratado mais de 15 mil pessoas nos primeiros nove meses deste ano, recentemente anunciou cortes alegando que havia calculado mal. "Tomei a decisão de aumentar significativamente nossos investimentos", disse o chefe-executivo Mark Zuckerberg, ao anunciar a demissão de 13% deles. "Infelizmente, as coisas não ocorreram da maneira que eu esperava".

Mudanças de mercado

Os anúncios online são a principal fonte de renda para muitas empresas de tecnologia, mas nuvens escuras têm se formado no horizonte com a crescente oposição às práticas publicitárias intrusivas. A Apple, por exemplo, tornou mais difícil rastrear a atividade online das pessoas e vender esses dados para os anunciantes. Como consequência, muitas empresas cortaram seus orçamentos para publicidade online.

O aumento das taxas de juros mundo afora também atingiu em cheio as empresas do setor. "Este tem sido um trimestre realmente decepcionante para muitas das grandes empresas de tecnologia", disse o analista de tecnologia Paolo Pescatore da PP Foresight. "Ninguém está imune".

Até a toda poderosa Apple tem demonstrado cautela, com o chefe executivo Tim Cook dizendo que a empresa "ainda está contratando", mas apenas "deliberadamente".

A Amazon atribuiu seus cortes de empregos a um "ambiente macroeconômico incomum e incerto", que forçou a empresa a priorizar o que mais importava para os clientes. "Como parte de nosso processo anual de revisão do planejamento operacional, sempre olhamos para cada um de nossos negócios e o que acreditamos que devemos mudar", disse a porta-voz Kelly Nantel. "Dado o atual ambiente macroeconômico (assim como vários anos de contratação rápida), algumas equipes estão fazendo ajustes, o que em alguns casos significa que certas funções não são mais necessárias. Não tomamos essas decisões de ânimo leve e estamos trabalhando para apoiar quaisquer funcionários que possam ser afetados".

Menos investimentos para reduzir custos

Os investidores também têm pressionado as empresas a cortar custos, acusando-as de serem inchadas e de demorarem demais para responder aos sinais de desaceleração. Em uma carta aberta à Alphabet, proprietária do Google e YouTube, o investidor ativista Sir Christopher Hohn exortou a empresa a cortar empregos e pagar. “A Alphabet tem que ser mais disciplinada quanto aos custos”, escreveu ele, “e cortar as perdas de projetos como sua empresa automobilística, Waymo”.

Outra crítica dos investidores é aos salários altos e regalias que alguns membros da indústria desfrutam. Para eles, isso é insustentável.

Elon Musk é outro que acredita que há espaço para cortes nos gastos. Depois de comprar o Twitter, seu mais recente investimento, ele demitiu metade dos funcionários da empresa e prometeu uma ética de trabalho "extrema" aos trabalhadores que foram mantidos.

As empresas de tecnologia estão saindo de um período de crescimento descomunal estimulado pela pandemia. É uma espécie de correção, à medida que o mundo da tecnologia se recalibra para um momento em que as pessoas não estão presas em casa.

Oportunidades perdidas por falta de preparo

Na contramão da tendência mundial, no Brasil, a demanda por profissionais de TI continua alta. Por aqui, o problema é a falta de preparo técnico –os profissionais da área precisam passar por cursos, treinamentos e especializações constantes, uma vez que a tecnologia se desenvolve e se atualiza frequentemente. Das duas uma: ou elas investem muito para formar profissionais qualificados, ou pagam caro para contratar os escassos profissionais já especializados disponíveis no mercado.

Outro desafio que as empresas nacionais precisam encarar é o êxodo de mão de obra. Para as companhias estrangeiras, contratar brasileiros costuma ser mais barato do que contratar profissionais locais, e o real desvalorizado torna difícil para as companhias locais competirem com salários em euro ou dólar.

A falta de mão de obra para preencher as vagas disponíveis acaba resultando em prejuízos devido ao atraso nos projetos e até a inviabilização de alguns deles.

Saúde mental

Um dos impactos da pandemia de Covid-19 nas empresas de tecnologia foi o aumento da incidência de problemas relacionados à saúde mental. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a pandemia desencadeou um crescimento global de 25% na prevalência de ansiedade, depressão e burnout.

Sendo assim, este novo cenário tecnológico acelerado pós-pandêmico também tem trazido sérios impactos às organizações, que por sua vez, devem contribuir para que os colaboradores encontrem um equilíbrio entre sua vida profissional e pessoal, por meio de cargas horárias ajustadas, salários compatíveis ao mercado e, ainda, ações voltadas ao apoio emocional.

O déficit de profissionais de tecnologia no Brasil pode ser superado ao longo do tempo. Em diversas empresas, o salário não é o único fator ou o principal para atrair um colaborador. Por isso, é necessário que as companhias priorizem não apenas o fator financeiro, mas também ações de recursos humanos efetivas focadas em saúde física e mental dos colaboradores, contribuindo com o equilíbrio da vida pessoal e profissional.

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