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Futurecom 2022 discutiu temas como 5G, abismo digital, IA e fixed wireless access

O evento apresentou as principais tendências nacionais e internacionais em tecnologia, transformação digital e telecomunicações. Os especialistas ressaltaram a existência de um gap de infraestrutura no país, bem como problemas nos cenários operacionais e regulatórios.

Entre os dias 18 e 20 de outubro, foi realizada, em São Paulo, mais uma edição do Futurecom, evento que, anualmente, debate o futuro da conectividade e dos negócios no Brasil e no mundo. Estiveram presentes vários especialistas em diferentes setores de tecnologia, empresários, juristas, engenheiros, entre outros.

A palestra de abertura do congresso foi realizada por Maximiliano Salvadori Martinhão, Secretário de Radiodifusão do Ministério das Comunicações, que abordou os impactos do 5G e o acesso à tecnologia no país.

Maximiliano ressaltou que o 5G promoverá uma transformação digital no setor de telecomunicações e na economia brasileira como um todo, com a possibilidade de crescimento de empresas e negócios diversos. No entanto, existem desafios para a implementação dessa tecnologia. "É preciso, primeiramente, aumentar a conectividade da fibra óptica e melhorar a estratégia de data center e cloud. Também precisamos dedicar atenção aos dispositivos e terminais", avalia o especialista.

Ele mencionou, ainda, que os compromissos estabelecidos como diretrizes para o leilão do 5G, ocorrido no final do ano passado, devem ser cumpridos. Alguns deles foram: a proteção a usuários TVRO; a cobertura de trechos desassistidos de rodovias; a implantação do PAIS, que compõe o Programa Norte Conectado; a implementação da banda larga móvel 4G ou superior em localidades com mais de 600 habitantes; a cobertura de áreas rurais desassistidas; o compartilhamento de infraestrutura ativa e passiva.

Atualmente, redes privadas já podem fazer o uso do 5G nas frequências de 225 a 270 MHz, 410 a 415 MHz, 420 a 425 MHz (em regulamentação), 1487 a 1517 MHz, 2390 a 2400 MHz, 2485 a 2495 MHz, 3700 a 3800 MHz e 27,5 a 27,9 GHz.

Por fim, Maximiliano afirmou que o Ministério das Comunicações prevê que o 5G trará um impacto econômico superior a 3 trilhões de dólares até 2035.

O abismo digital no Brasil

Em seguida, o vice-presidente de Public Relations da Huawei, Atílio Rulli, o head de marketing da Nokia do Brasil, Felipe Garcia, a sócia-líder de tecnologia, mídia e telecomunicações da Deloitte, Marcia Ogawa, e o vice-presidente da Ericsson, Vinicius Dalben, discutiram os caminhos para superar a desigualdade no acesso à tecnologia no Brasil.

Atílio iniciou a conversa enfatizando que o abismo digital é uma realidade cuja superação exigirá esforços para a alfabetização digital da população e a capacitação de talentos. Para ele, os bancos digitais e o PIX foram passos importantes nesse sentido.

Vinícius, por sua vez, defendeu o papel dos smartphones na inclusão digital de mais brasileiros. "O smartphone se apresenta como o habilitador mais socialmente inclusivo para o acesso à internet. Afinal, é mais fácil levar um smartphone a um cidadão de uma área rural do que um computador", aponta.

No entanto, o vice-presidente da Ericsson reconhece a complexidade por trás dessa missão, dadas as dimensões continentais do país e os altos custos do investimento em banda larga e fibra óptica.

"De todo modo, estamos em um momento importante de risco e oportunidade. Todos os setores da sociedade estão se digitalizando. A inclusão digital será a inclusão a esses diversos serviços, sejam eles públicos ou privados", diz Vinicius.

Além da falta de acesso à tecnologia, outro problema é a ausência de habilidade para lidar com ela. "O principal abismo não é apenas não ter acesso à tecnologia, conectividade ou internet. Outro ponto é não saber utilizar a tecnologia efetivamente para as atividades de trabalho. Boa parte da população não tem base para utilizar a tecnologia na profissão", comenta Márcia.

Por isso, os especialistas enfatizaram que é necessário formar digitalmente os cidadãos brasileiros ainda no ensino básico, além de desenvolver e capacitar jovens e adultos para lidar com as novas tecnologias da informação e da comunicação.

Márcia também argumentou que o Brasil deve melhorar sua capacidade de desenvolver recursos tecnológicos: "Outro aspecto do abismo digital no Brasil é que o país tem uma capacidade reduzida de construir a tecnologia. A incorporação de mais tecnologia na nossa matriz de produtos vai torná-los mais complexos, melhorando-os, e poderá aumentar a renda per capita".

Mercados e soluções de IA

Em um terceiro momento do congresso, foi realizado um debate sobre inteligência artificial (IA). Participaram Valter Wolf, presidente da da Associação Brasileira de Inteligência Artificial (ABRIA), José Ricardo Bueno, embaixador do TM Forum, Igor Calvet, presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Gilca Palma, diretora de inovação do Climatempo, Bruno Soares, gerente da unidade de difusão de tecnologias da ABDI e Helio Matsumoto, diretor executivo do Grupo Fleury.

De início, os painelistas abordaram a relação entre 5G e IA. "A disseminação do 5G acelerará a adoção e a ampliação do uso da IA", resumiu Valter. Em seguida, o tema discutido foram os passos para a implementação de IA na indústria.

Segundo Bruno, o ciclo de adoção dessa tecnologia passa por seis fases: contact (contato inicial), awareness (conhecimento), understanding (entendimento), trial use (testagem), adoption (adoção) e institutionalization (institucionalização). O caminho do contact ao trial use pode ser feito em oito meses, enquanto as duas últimas etapas pode levar três a quatro anos.

Segundo a o Global AI Adoption Index 2022, conduzido pela Morning Consult para IBM, alguns problemas que impedem a adoção plena de IA são a habilidades ou expertise em IA limitadas, preços elevados, falta de ferramentas ou plataformas para desenvolver modelos, projetos muito complexos ou difíceis de integrar e dimensionar e a complexidade excessiva de dados.

Os especialistas deram dicas para a utilização de IA na jornada da indústria. Ao se tentar empregar a tecnologia como experimento, é importante obter, antes, uma boa compreensão do que realmente é a IA e identificar possíveis casos de uso para a organização. Quando se trata do uso em produção, deve-se iniciar mais projetos de IA em uma ampla gama de processos de negócios para difundir conhecimento. Também é aconselhável priorizar implementações brownfield (automatizando processos existentes), em vez de implementações greenfield (processos de redesenho). Por fim, ao se utilizar IA efetivamente em processos, é necessário envolver todas as personas (negócios, IA, dados, TI) no ciclo de vida dos casos de uso de IA, promovendo a intersecção entre a transformação tecnológica e cultural da empresa.

Fixed wireless access

Uma palestra do primeiro dia do Futurecom foi dedicada ao 5G fixed wireless access. Falaram Roberto Murakami, CTO da NEC na América Latina, José Roberto Nogueira, CEO da Brisanet, Caio Bonilha, parceiro da Futurion Análise Empresarial, Leandro Gaunszer, diretor geral da Viasat, José Felipe Ruppenthal, parceiro associado da Kyndryl e Marcos Scheffer, vice-presidente da Ericsson na América Latina.

O fixed wireless access (FWA) é um serviço que pode ser oferecido por meio da implementação das redes 5G. Ele possibilita o fornecimento de banda larga sem fios a partir do uso de links de rádio entre uma torre de celular e a casa do cliente. Assim, as operadoras de rede são capazes de fornecer banda larga de alta velocidade para residências em locais com infraestrutura precária de telecomunicações ou onde o cabeamento fixo de fibra seria inviável ou custoso.

"O FWA viabiliza negócios em locais onde chega a fibra óptica, e, mesmo onde há mercado de fibra, ele traz grandes oportunidades. Nos EUA, por exemplo, existe uma grande substituição da fibra pelo FWA por parte de operadoras como a T-Mobile", constata José Felipe.

Para Roberto, é preciso entender que alguns cases serão resolvidos com o FWA, enquanto outros demandarão a fibra. Na sequência, Marcos acrescentou que, no Brasil, o FWA atuará como um complemento à fibra: "Existe um potencial grande para se cobrir novas residências, e o FWA é uma ferramenta muito viável. É preciso substituir as conexões de baixa efetividade, que são redes que não trazem uma velocidade boa. Para exemplificar, existem prédios antigos nos centros das cidades onde não se pode passar fibra pelos dutos. Nesses casos, o FWA seria uma boa solução".

Todavia, existem desafios para a adoção do FWA no país. Os especialistas ressaltaram a existência de um gap de infraestrutura no país, bem como problemas nos cenários operacionais e regulatórios, a exemplo da cobertura limitada de internet móvel.

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