alphaspirit - stock.adobe.com

Formação de profissionais e maior conectividade, os desafios da internet

Além das redes sociais e da ampla disseminação de conteúdo em tempo real, a internet ainda tem desafios a resolver, como acesso às comunidades remotas da região, interoperabilidade e regulamentações.

No evento anual do LACNIC 2019 foi realizado pelo Registro de Endereços da Internet para a América Latina e o Caribe (LACNIC). LACNIC é uma organização não governamental internacional que reúne cerca de 9.000 associados em 33 países da região. Tem como função a atribuição e administração de recursos de numeração da internet (IPv4, IPv6), mas também contribui para o desenvolvimento da web ao promover a cooperação, defender os interesses da comunidade regional e colaborar na geração de condições para que a internet seja um instrumento eficaz de inclusão social e desenvolvimento econômico na América Latina e no Caribe.

Segundo Oscar Robles, diretor-executivo do LACNIC, um dos aspectos mais relevantes dos eventos que organizam é ​​que a definição de políticas públicas é feita pela comunidade, e não pelo staff da entidade. É um esforço conjunto e, para apoiar a comunidade, a organização realiza diversos fóruns de capacitação. “Temos que construir uma comunidade de maneira permanente e, para isso, temos workshops presenciais e online, fóruns técnicos etc. Fazemos esforços para construir a comunidade e treiná-la”, diz Robles.

Uma das iniciativas é o Campus LACNIC, um portal de treinamento a partir do qual são oferecidos cursos relacionados a gerenciamento de redes, IPv6, segurança de internet e outros temas. Muitos desses cursos, segundo o executivo do LACNIC, são oferecidos gratuitamente.

“Os esforços de capacitação têm aumentado e, com isso, mais pessoas usam nossas plataformas, assistem os webinars e participam dos eventos presenciais. Isso nos permite ter diálogos para buscar uma internet melhor”, diz o executivo.

Profissionais da indústria participam desses diálogos comunitários, bem como o pessoal de operadoras de telecomunicações, fabricantes de soluções de hardware e software e empresas de transmissão e serviços de conteúdo online, como Netflix, Claro ou Facebook. Essas empresas, explica Robles, “têm interesse em apoiar a velocidade de navegação para conteúdo, gerar redes de entrega de conteúdo (CDNs) e identificar onde colocar as CDNs, com base no tráfego, nos pontos de interconexão e nas redes importantes em cada região. No evento, tivemos o fórum de interconexão onde são feitos acordos e do qual participam empresas como Netflix, Facebook, Google e Akamai”.

“Os diálogos também nos permitem trabalhar a segurança da internet e gerar mecanismos para identificar quem gera conteúdo nocivo”, diz Oscar Robles, ao responder a uma pergunta sobre os atuais problemas que a internet enfrenta em relação à livre divulgação de informações e regulamentações. “Existe uma concepção de que internet é só as redes sociais, quando na verdade existem muitos outros elementos e capacidades. Informações ruins são geradas por questões políticas ou interesses comerciais próprios. A questão da aplicação da lei ainda é baixa e não há problema de conscientização no uso das ferramentas pelos usuários. Mas não acho que a internet tenha se transformado em um monstro. Ela continua sendo o que era como ferramenta de comunicação. O problema somos nós, que a usamos essa poderosa ferramenta em nosso prejuízo”, diz.

No entanto, Robles continua otimista: "Ainda acredito que a internet pode ser um recurso de desenvolvimento para aqueles que estão mais longe do epicentro da sociedade, pois facilita a comunicação e integração em locais remotos."

Como parte do processo de construção permanente de esforços conjuntos entre o LACNIC e as organizações patrocinadoras, a entidade busca compartilhar as informações geradas e divulgar os resultados de suas iniciativas. Um desses frutos é a próxima publicação de um livro que reúne 20 anos de trabalho e resumos dos fóruns. Este compêndio, intitulado “Evolução da Comunidade LACNIC”, é o resultado de um esforço conjunto entre a Internet Society (ISOC), a Corporação da Internet para a Atribuição de Nomes e Números (ICANN), a Associação Latino-Americana e Caribenha para a Definição de Tipos de Nomes de Domínio (LACTLD)  e o LACNIC.

Iniciativas para alcançar as comunidades

O diretor-executivo do LACNIC também falou sobre algumas iniciativas que a organização está realizando para estender seus esforços aos mais necessitados da região: os programas FRIDA e LACNIC on the move.

O Fundo Regional para Inovação Digital na América Latina e Caribe (FRIDA) é uma iniciativa do LACNIC que, desde 2004, tem contribuído para o desenvolvimento da sociedade da informação na região. O programa oferece financiamento e oportunidades para fortalecer as capacidades e relações com as organizações da sociedade civil, empresas, governos e universidades que articulam o potencial das tecnologias da informação e comunicação para o desenvolvimento da região.

“Uma das abordagens do FRIDA é ter projetos de acesso sustentável à internet em setores vulneráveis ​​ou setores que não têm cobertura das operadoras principais e aumentá-los. Existem vínculos com universidades, como a RedCLARA, mas a intenção é ampliar esse mecanismo e gerar mais espaços para projetos comunitários. Hoje temos iniciativas mais específicas lideradas por mulheres e a questão da interligação das cidades através de pequenas redes entre elas”, diz Robles.

Por outro lado, o LACNIC on the move foi desenvolvido para levar os eventos a lugares onde não é possível realizar um fórum anual da entidade, que recebe 600 ou 800 pessoas. A iniciativa permite a realização de versões menores, para cerca de 150 pessoas. “É algo mais local, para as pessoas próximas da sede, e é uma forma de chegar a regiões onde dificilmente podemos ter grandes eventos, como as cidades pequenas. Isso também nos ajuda a identificar o potencial de crescimento dessa comunidade e dos esforços de promoção da internet”, pontua o executivo.

Prêmios e anúncios

No âmbito do evento, foram entregues as premiações aos vencedores do 5º Desafio de Implementação do IPv6. O objetivo do desafio era que os participantes mostrassem o andamento da implantação em sua rede, com evidências verificáveis. Desta vez, os vencedores foram duas instituições de ensino. O segundo lugar foi concedido à Rede de Pesquisa em Tecnologia Avançada (RITA) da Universidade do Distrito Francisco José de Caldas, na Colômbia, onde foram implantados pelo menos seis serviços IPv6. O primeiro lugar ficou com a Universidade Autônoma de Querétaro, no México, como resultado da implantação do IPv6 em diversas instalações.

Também foi apresentada a nova diretoria do recém-fundado LAC-ISP, grupo cujo objetivo é unir ISPs de toda a região criado por cinco países: México, Brasil, Argentina, Equador e Colômbia.

Outro anúncio relevante foi a apresentação dos resultados do DNS Flag Day, um movimento comunitário cujo objetivo é promover a limpeza das extensões DNS e solucionar problemas de compatibilidade. O blog do Internet Systems Consortium (ISC) explica no que consistia o movimento e quais foram as principais conquistas, incluindo a avaliação de quase 5 milhões de domínios em janeiro, uma melhoria na compatibilidade de extensões DNS (EDNS) com o servidor Alexa e o trabalho de vários fornecedores de firewall e provedores de serviço, que testaram seus próprios produtos e serviços, posteriormente publicando os resultados, bem como seus planos para continuar trabalhando na correção dos problemas de compatibilidade do EDNS.

Saiba mais sobre Telecomunicações e banda larga