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Desenvolvimento de aplicações é o caminho para acelerar monetização do 5G no Brasil
Estamos ainda no início da jornada do 5G, mas esta plataforma abre um universo de oportunidades e benefícios para toda a sociedade, de consumidores a empresas em geral, devendo se tornar no padrão com mais elementos ativos na história das comunicações.
A quinta geração das redes móveis, o 5G, criou muita expectativa de quão longe pode chegar em termos de eficiência e produtividade porque suas potencialidades são imensas. Não se trata apenas de mais velocidade ou latência reduzida, mas de uma arquitetura que permite a gestão de uma infinidade de elementos inteligentes e de baixo consumo energético. Tais características devem ampliar a conectividade e permitir o desenvolvimento de soluções mais sustentáveis, com melhor cobertura, maior qualidade na conexão e opções mais eficientes de processamento e armazenamento de informações.
Diante da constatação de tanta evolução, agora o foco se volta para o lado mais prático do 5G: a sua monetização. O debate já é intenso há algum tempo no setor e foi amplamente discutido no maior evento de tecnologia móvel do mundo: o Mobile World Congress (MWC), realizado, em fevereiro, em Barcelona.
Tanto as iniciativas para efetivar a monetização do 5G apresentadas por fabricantes, fornecedores, operadoras, provedores de conteúdo, integradores e consultorias especializadas durante o MWC, quanto as que serão aprofundadas durante o Futurecom, que acontece em outubro, em São Paulo, apontam para um caminho claro: o desenvolvimento de aplicações orientadas à arquitetura de rede e suas características únicas, tais como Fixed Wireless Access (FWA), Network Slicing e Redes Privativas.
Já usado com eficiência em países como EUA, México e Japão, o FWA (Acesso Fixo sem Fio) deve ser considerado pelos provedores de acesso no Brasil nos próximos anos porque representa uma alternativa de banda larga competitiva, de grande cobertura e disponibilidade de serviços para os usuários, principalmente em áreas em que a rentabilização de uma infraestrutura de cabos óticos é mais desafiadora. Outro ponto relevante a ser considerado é a melhoria de experiência para o cliente, uma vez que o FWA não só poderá prover mais acessos, mas também velocidades muito maiores do que eventuais sistemas legados disponíveis.
Essa ampliação do acesso à conectividade e à velocidade do 5G vai aumentar a eficiência de negócios locais, de indústrias regionais e do agronegócio com uso de dispositivos de monitoramento de safras e de condições climáticas, controle de estoques, gerenciamento da logística de produtos, entre outros. Outro impacto importante que o FWA deve oferecer é o acesso à economia digital para muitos brasileiros que ainda não foram incluídos nela, ampliando, por exemplo, o uso do PIX.
No caso do Networking Slicing, é feito o processo de fatiamento do 5G para que ele se adapte às necessidades da aplicação utilizada e aos parâmetros específicos para seu desempenho. Essa caraterística confere maior eficiência no uso do 5G. Transmissão de vídeos em alta resolução, como de 4K, por exemplo, demandam larguras de banda extremamente altas, enquanto aplicações como carros autônomos ou cirurgias assistidas exigem respostas de envio de dados (latência) extremamente baixas.
Tradicionalmente, operações com necessidades específicas funcionam com arquiteturas semelhantes de rede. Já com o Slicing, o prestador consegue isolar as porções de rede necessárias para atender às especificidades de uma aplicação, fazendo com que ela funcione com parâmetros de rede otimizados e tendo, ao final, mais eficiência, uma vez que haverá possibilidade de conexão de um número maior de dispositivos, beneficiando as demandas específicas de segurança, gestão e alocação de capacidade para os mais diversos segmentos da economia de uma determinada região.
Apesar de o conceito de “Redes Privativas” não ser algo novo, com o 5G ele assume novas dimensões fundamentais para o desenvolvimento de ambientes dedicados, cujos parâmetros de operação, trânsito, armazenagem, processamento e segurança da informação sejam vitais e estratégicos como em complexos industriais e cidades inteligentes. Sua combinação com a arquitetura de borda (edge computing) permite acelerar os sistemas de decisão e resposta imediata, além de habilitar a automação, robotização móvel, veículos autônomos, realidade aumentada, computação a bordo, aprendizado de máquina (ML), gêmeos digitais (digital twins) e outras aplicações da internet das coisas (IoT).
Os setores mais impactados e beneficiados são os que exigem conectividade segura e rápida como terminais portuários, armazéns logísticos, robôs da indústria 4.0 e mineração. Além disso, as cidades inteligentes poderão ter múltiplos dispositivos IoT conectados ao 5G, compondo um sistema capaz de coletar dados e compreender as demandas de uma cidade em tempo real, o que resulta em mais segurança e sustentabilidade já que o uso de recursos se torna mais eficiente e otimizado. As redes privadas podem aumentar a eficiência na indústria como um todo de 25% a 60% até 2030, de acordo com pesquisas da Ericsson.
Todos os integrantes da área de telecomunicações têm sua parcela de contribuição para a aplicação prática do 5G, mas o papel dos fornecedores e integradores de conectividade nesse processo de monetização do 5G com foco em aplicações será fundamental. Eles devem atuar como orquestradores de soluções completas que passam por etapas como ouvir os clientes, entender suas necessidades e, a partir daí, montar as soluções mais adequadas usando ferramentas, equipamentos e estruturas que eles já têm para reduzir custos de implementação.
O Brasil é um “país continente” diverso em geografias e economias, espaço fértil para a multiplicação de aplicações dedicadas e integradores de soluções criativos. Estamos ainda no início da jornada do 5G, cujo cronograma de implantação deve se estender até 2029, mas esta plataforma abre um universo de oportunidades e benefícios para toda a sociedade, de consumidores a empresas em geral, devendo se tornar no padrão com mais elementos ativos na história das comunicações.
Sobre o autor: Hermano Pinto é Diretor do Portfólio de Tecnologia e Infraestrutura da Informa Markets, responsável pelo Futurecom, maior evento de tecnologia, telecomunicações e transformação digital da América Latina