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Como soluções de conectividade podem transformar o atendimento médico?
No primeiro dia do 5G Saúde Conectada, palestras trataram de 5G na medicina e cases de sucesso. Aqui está um resumo de como a tecnologia está melhorando o atendimento médico e hospitalar.
A conferência 5G Saúde Conectada, promovida pela plataforma TI Inside, ocorreu no dia 11 de abril e contou com palestras e debates sobre conectividade e medicina. No primeiro painel, cujo enfoque foram as novas formas de atendimento ao paciente, estavam presentes Carlos Bassi, co-fundador e CEO da Quoretech, Gustavo Perez, CEO da MTM, e Pedro Filizzola, head de marketing da Doctoralia. Já no segundo painel, dedicado ao tema da jornada do paciente conectado, participaram Rafael Kenji, CEO da FHE Ventures, Carlos Braga, CEO do Bio e Jorge Carvalho, head da vertical de Health na Semantix.
Novas soluções de conectividade
Primeiramente, Bassi, Perez e Filizzola apresentaram cases de sucesso de soluções de atendimento ao paciente desenvolvidas por suas respectivas companhias. No caso da Quoretech, foi criado um dispositivo de monitoração de arritmias cardíacas, chamado de Quoreone. Trata-se de um aparelho sem fios que é posicionado sobre o tórax do paciente.
"Após a implantação do dispositivo no paciente, o profissional técnico utiliza um app para configurar o período e o modo do exame, que pode ser online ou offline, e testa a qualidade do sinal que está sendo capturado", explica Bassi. "No modo online, com o Quoreone implantado e configurado, o paciente baixa o app e se conecta para transmitir o sinal, podendo, durante o exame, adicionar nota de algum sintoma".
Por fim, o sinal de eletrocardiograma (responsável por monitorar a atividade cardíaca) é transmitido a uma plataforma de análise, que, por sua vez, processa os dados recebidos por meio de um algoritmo de inteligência artificial. Ao término do exame, também é gerado um relatório pela inteligência artificial, e um cardiologista habilitado o avalia.
Segundo o CEO da Quorotech, uma vantagem dessa solução é que ela evita que o paciente perca muito tempo se locomovendo até a unidade de saúde para fazer o exame. Além disso, o dispositivo facilita a realização de exames de longa duração.
Em relação ao último ponto, Bassi cita dois exemplos de exames de duração feitos com o aparelho. Em ambos os casos foi preciso monitorar, por vários dias, pacientes que eram acometidos de desmaios, pois devia-se detectar exatamente o momento em que desmaiassem. Ao final, foi possível diagnosticar os dois casos com precisão: embora ambos tivessem praticamente os mesmos sintomas, um dos pacientes apresentava um problema cardíaco e, o outro, neurológico. "Isso mostra a importância de fazer exames de longa duração, inclusive para que o médico saiba como agir com mais precisão", opina o especialista.
Já a MTM desenvolveu para o Hospital Albert Einstein uma solução voltada à notificação de achados críticos. "A instituição de saúde havia identificado um problema em seu setor de exames de imagem: frequentemente, pacientes que tiveram achados críticos diagnosticados em seus exames demoravam a comunicar isso aos médicos e só retornavam para o hospital em estágios avançados da doença", explica Perez. Com o novo sistema, os médicos passaram a receber alertas dos resultados assim que os exames saíssem.
Outra solução desenvolvida pela companhia foi a plataforma mobileX, que digitalizou várias etapas do atendimento ao paciente, garantindo a possibilidade de realizar o check-in e preencher fichas remotamente. "Agora, após a pandemia, o enfoque está em proporcionar uma jornada mais fluida ao paciente. Começamos a ver, por exemplo, com as teleconsultas, que cada vez mais existe a preocupação de não trazer o paciente desnecessariamente para a unidade de saúde, até mesmo para evitar a contaminação", afirma o CEO da empresa.
A Doctoralia, por sua vez, desenvolveu uma plataforma que conecta médicos e pacientes, onde se pode marcar consultas de forma online e, inclusive, realizar teleatendimentos. "O que temos visto hoje em dia é que a transformação digital mudou o comportamento do consumidor, do cliente e do paciente. Este paciente é um usuário totalmente conectado no dia a dia e acostumado com as experiências digitais, e o setor de saúde deve atender suas novas necessidades", argumenta Filizzola.
Desafios e papel do 5G
Os especialistas ainda debateram alguns dos desafios para o avanço das soluções de conectividade voltadas ao atendimento dos pacientes. Segundo eles, existem problemas de tecnologia e infraestrutura na maioria dos hospitais brasileiros. Na opinião de Perez, a conectividade possibilitou uma grande quebra de paradigmas, mas nem todos os hospitais estão preparados para digitalizar seus processos de atendimento:
"Hoje em dia, o paciente quer ter no hospital a mesma facilidade e fluidez que ele encontra, por exemplo, ao fazer o check-in em um aeroporto ou em um banco. Mas, para que as instituições de saúde pensem nesse formato, existe uma questão cultural, uma quebra de paradigma muito forte, além de uma questão orçamentária. Esse orçamento para a conectividade compete com o orçamento para equipamentos, ampliação de leitos etc. É sempre um grande dilema quando se pensa em fazer investimentos na área da saúde", analisa.
Outro ponto destacado pelos palestrantes foi que, mesmo em hospitais que contam com soluções de conectividade, muitas vezes estas não são devidamente ofertadas ao paciente. Por exemplo, há vezes em que não se oferece a possibilidade da teleconsulta, que pode ser útil quando o médico já conhece o histórico do indivíduo e não precisa examiná-lo fisicamente.
Jornada do paciente conectado
Em seguida, o segundo painel do evento abordou a importância de se criar uma experiência customizada e fluida. Nesse sentido, Kenji explicou que é possível digitalizar todas as etapas do atendimento presencial, desde a preparação e o cadastro dos dados do usuário até o pagamento e o agendamento de consultas.
O CEO da FHE Ventures também falou sobre o funcionamento das instalações de saúde conectada: "Nelas, temos um centro de comandos, que vai coordenar todas as tecnologias que permeiam o atendimento, desde as salas inteligentes, que utilizam tecnologia, robótica, IA e big data, até os consultórios virtuais. Essas instalações também contam com a automação da cadeia de suprimentos, em processos como compra e substituição de equipamentos e medicamentos, gerenciamento de leitos, rastreamento de recursos e triagem de pacientes", descreve.
Na sequência, Braga enfatizou que a telemedicina pode ser um importante recurso para o processo de triagem, tratamento e acompanhamento em longo prazo do paciente. "A tecnologia vem para aproximar cada vez mais o profissional da saúde e usuário. Haverá também uma procura maior das pessoas por um atendimento humanizado dentro da telemedicina", prevê o especialista.
Porém, ele argumenta que os médicos devem pensar em uma linha de cuidados com protocolos bem desenhados, para que seja possível realmente inserir o paciente em um programa de tratamento correto e fazer com que ele o siga. "Mas não adianta só colocar a pessoa no programa correto e fazer contatos superficiais com ela. O importante é conseguir cumprir toda a jornada estando disponível para a ouvir sempre aquele paciente", complementa.