sdecoret - stock.adobe.com
Análise da transformação digital em organizações brasileiras
5x5 Tec Summit discute transformações tecnológicas no setor elétrico e nos serviços públicos no Brasil. Temas centrais das palestras foram sustentabilidade, energia e digitalização do gov.br.
Nos dias 29 de novembro e 7 e 8 de dezembro, ocorreu mais uma edição do 5x5 TEC Summit, evento organizado pelos portais Convergência Digital, Mobile Time, Tele Síntese, Teletime e TI Inside. Os especialistas presentes analisaram o processo de transformação digital e tecnológica dos modelos de negócios em diferentes vertentes da economia.
Setor elétrico em transformação
Isabela Sales Vieira, diretora de programas do Ministério de Minas e Energia, Christian Vasconcellos, CEO da Energizou, Cláudio Ribeiro, CEO da 2W e Marina Martinelli, doutoranda em 5G pela Unicamp, falaram sobre como a oferta de energia no Brasil poderá ser impactada pelas novas tecnologias digitais.
Isabela começou explicando que o setor elétrico passa por um momento de transformação e inovação tecnológica, marcado por cinco elementos: descarbonização, digitalização, descentralização, democratização e desenho de mercado.
Segundo a especialista, será possível observar a transição de um modelo de fornecimento de energia centralizado para um sistema mais moderno e difuso. "Antes, o setor elétrico tinha um fluxo unidirecional. Havia, de um lado, grandes usinas hidrelétricas produzindo energia, com alguma complementação termelétrica; do outro lado, as redes de transmissão e, na ponta, o consumidor", explica Isabela.
"O setor caminha agora para um modelo completamente diferente. Um sistema multidirecional, fortemente descentralizado, sem grandes usinas, mas com geração distribuída em vários pontos. Um sistema inovador, dinâmico e tecnológico, em que o consumidor é protagonista", complementa.
As tecnologias digitais já estavam presentes no setor elétrico, sendo utilizadas no monitoramento de equipamentos, nas inspeções em linhas aéreas, na fiscalização remota, na operação do sistema elétrico e nos modelos computacionais. Porém, agora, elas também chegarão ao consumidor final, permitindo que ele faça a gestão ativa do próprio uso de energia, por meio de aplicativos móveis e medidores inteligentes.
Além disso, as smart grids tendem a ganhar cada vez mais relevância. "As smart grids são um sistema de redes inteligentes de energia elétrica, que se utiliza das tecnologias da informação e da comunicação para entregar eficiência energética, confiabilidade e sustentabilidade", define Mariana.
Um fator que potencializará as smart grids será o 5G, uma vez que a tecnologia facilitará o fatiamento da rede, a diversificação dos fornecedores de energia e o surgimento de microgrids e sistemas distribuídos.
Outra tendência apontada pelos especialistas é a de inserção das pequenas empresas no mercado livre de energia. "O mercado livre de energia é um ambiente de negociação onde as empresas geradoras, comercializadoras e consumidoras podem firmar contratos de compra de energia e negociar livremente as condições comerciais entre elas. Quem está nesse mercado hoje são as grandes empresas de energia", observa Danilo.
Fazer a inclusão das pequenas empresas nesse meio não será tarefa fácil. "Falar com um cliente menor, menos sofisticado e que não conhece o jargão técnico traz desafios. Há, principalmente, desafios ligados a produto, marketing e comunicação", ressalta Christian.
Digitalização dos serviços públicos no Brasil
Em outro bloco do evento, estavam presentes Fernando Coelho, secretário de governo digital do Ministério da Economia, Carlos Lauria, diretor de relações governamentais e assuntos regulatórios da Huawei Brasil, e Silvio Meira, cientista e empreendedor.
Os especialistas discutiram a digitalização do gov.br, a plataforma digital de relacionamento do cidadão com o governo federal brasileiro, que entrou em funcionamento em 2019.
Fernando, que esteve à frente do projeto de digitalização da plataforma, explicou que a estratégia de governo digital teve como princípios o foco no cidadão, a confiabilidade, a transparência, a integração, a inteligência e a eficiência.
Além disso, o secretário apresentou dados oficiais sobre o gov.br: desde sua digitalização, 40% das aposentadorias foram processadas automaticamente, 100 mil veículos foram transferidos com assinatura avançada (sem a necessidade de ida ao cartório), 175 mil passageiros embarcaram em aeronaves com biometria, 30 milhões cidadãos tiveram o imposto de renda pré-preenchido pela Receita Federal e 5 milhões de cidadãos baixaram o app Cadastro Único para pré-cadastro e consulta de benefícios.
No entanto, ainda há melhorias a serem feitas, conforme argumentou Carlos: "Temos um plano bem sucedido de trazer serviços digitais à população e sair de uma lógica de governo eletrônico. Realmente, hoje se pode fazer tudo pelo gov.br. Mas fato é que grande parte das classes C, D e E, que majoritariamente usam planos de internet pré-pagos, têm limitação no acesso à internet por não terem créditos para o mês todo. Esses créditos acabam e as pessoas ficam só com os serviços gratuitos oferecidos pelas grandes plataformas, e sem acesso aos serviços digitais do governo". Por isso, o especialista defende que os serviços públicos que estão migrando para formatos digitais sejam oferecidos de maneira gratuita.
Em seguida, Silvio comentou sobre a necessidade de desburocratizar a ação do Estado brasileiro: "O Brasil não fez a transformação digital que se esperava, porque a burocracia continua lá. Estamos apenas criando uma burocracia digital. Quando falamos de transformação digital, não estamos falando de introdução de novas tecnologias e de mais automação. Estamos falando de mudanças radicais nos modelos de negócios e de ação governamental".