Centre for Connected and Autonom

A adoção de tecnologia SDWAN pelos ISP

Os especialistas em negócios diz que precisamos aumentar o valor agregado aos nossos produtos, vemos que todos eles indicam o caminho de agregar serviços. E aí está o segredo: já existente há algum tempo, mas ainda mal compreendida, temos a tecnologia de SD-WAN.

Ano a ano temos observado uma brusca redução nas margens de lucro das operadoras que fornecem links de dados para empresas e o mercado residencial. Muito dessa redução se dá pelo aumento da concorrência decorrente do constante incremento nos investimentos em malha de última milha, assim como pelo lançamento de novas tecnologias que simplificam a chegada até o cliente final.

Em todos os eventos de tecnologia que participamos, assistimos sempre duas ou mais palestras de especialistas em negócios para operadores de telecomunicações, onde nos apresentam soluções para agregar valor ao fornecimento de links. Em todas as palestras, sem exceção, temos a mesma mensagem contida explicitamente ou nas entrelinhas: “A empresa que permanecer ofertando enlace de comunicação sem nenhum valor agregado, não sobreviverá aos novos tempos de ampla concorrência”.

Para agravar ainda mais esse cenário, estamos presenciando o nascimento de uma nova tecnologia de comunicação sem fios, o 5G. Tecnologia esta que está vindo para o mercado como um tsunami que irá ampliar absurdamente a concorrência, sobretudo por links de baixa velocidade. Quando digo baixa velocidade, não considero mais os links de 1, 5 ou 10Mbps. Estou considerando links de 50, 100, 300Mbps ou até mais. Sem a necessidade de cabos para chegar até o cliente, com velocidades já bem consideráveis, esta tecnologia aumentará ainda mais a disputa por mercado, certamente reduzindo a já escassa margem de lucro em cima do link de dados puro e simples.

Quando escutamos dos especialistas em negócios que precisamos aumentar o valor agregado aos nossos produtos, vemos que todos eles indicam o caminho de agregar serviços. E aí está o segredo, pois quando colocamos serviços associados, temos uma maior fidelização do nosso cliente, tornando mais difícil a substituição de nosso produto pelo de um concorrente pura e simplesmente por uma pequena redução ofertada por ele na fatura mensal.

Já existente há algum tempo, mas ainda temida e mal compreendida por uma grande parcela das empresas fornecedoras de links, temos a tecnologia de SD-WAN. Essa tecnologia teve o início de sua discussão lá no longínquo ano de 2014, e em linguagem simples e direta consiste na inserção de uma camada superior de inteligência de controle baseada em software, acima das interconexões de WAN (Wide Area Network) já existentes. Daí vem o prefixo SD (Software Defined) da sigla SD-WAN.

Mesmo oito anos após o início das discussões acerca desta tecnologia, e tendo dezenas de fabricantes com soluções maduras, estáveis e cada vez mais baratas à disposição em nosso mercado, percebemos uma total falta de conhecimento, gerando receio, e posso até dizer aversão, ao assunto quando tentamos abordá-lo. Neste sentido, para contextualizar melhor do que se trata e facilitar o entendimento da mensagem que quero deixar, vamos entender, de forma leve e superficial, um pouco dessa tecnologia.

Toda empresa que possui diversos pontos de presença, sejam eles escritórios, lojas, armazéns, escolas, entre outros tipos, precisa de algum tipo de comunicação entre esses pontos. Tradicionalmente, contrata-se uma operadora de telecomunicações que fornecerá links para a interligação destes pontos. Links estes que podem ser de tecnologias das mais diversas, entre as mais comuns ADSL, xPON, 4G, Rádio, Satélite ou Rede Metro.

Até aí não temos nenhum problema, são comunicações simples de se resolver. Mas com a exigência cada vez maior de segurança, estabilidade, disponibilidade e baixa latência, o trabalho de operação e manutenção dessas conexões WAN se torna mais complexo. A mescla de tecnologias diferentes na última milha, a necessidade de inclusão de links de backup, a necessidade de balanceamento de tráfego no momento de maior consumo das redes, a garantia de uma melhor experiência de uso em aplicações críticas e o constante incremento da necessidade de proteger o tráfego de dados sensíveis através das redes públicas, vem tornando o trabalho de quem mantém essas redes um tormento diário. Foi basicamente em cima desses requisitos que começou a ser discutida a possibilidade de inserir uma camada de software para auxiliar nesta tarefa, surgindo assim o conceito de SD-WAN.

Em condições normais de temperatura e pressão, como diziam nossos professores de física e química, cada empresa teria o seu sistema de SD-WAN que seria responsável por manter a inteligência de seus negócios na interconexão entre seus diversos endereços. Não que isso seja impossível, mas a realidade que presenciamos no nosso mercado é que a imensa maioria das empresas mal tem um setor de TIC bem estruturado e tem dificuldades em manter tecnologias básicas funcionando de maneira adequada.

E é aí onde entendemos estar a oportunidade para as fornecedoras dos links agregarem o valor mencionado previamente. Essas empresas podem fazer a aquisição da solução de software, montar a equipe especializada no assunto, tem um NOC/SOC capaz de administrar essa tecnologia e ofertar como serviço para o cliente. Não mais ofertando apenas a WAN que cai na concorrência comum, mas agora ofertando a camada superior de inteligência, valorizando e fidelizando seu produto para o cliente que contrata.

Outro ponto de ganho de receita que a SD-WAN pode trazer está no fato de que a fornecedora da solução de SD-WAN não precisa necessariamente ser a fornecedora dos links de comunicação. Basta que os roteadores sejam compatíveis com a camada de software para que a solução funcione de forma independente do meio de transmissão. O que isso possibilita? Pensa no exemplo de um supermercado, com dezenas de lojas. Hoje, para que você realize a interconexão, precisa ter ponto de presença ou parceria de última milha em cada um dos endereços contratados. Num ambiente de SD-WAN, basta que em cada endereço seja adicionado um roteador compatível com sua solução de software, que independentemente de ser um link seu ou de seu concorrente, quem irá responder pela inteligência do tráfego será a sua solução paga como serviço.

Tentei nesse artigo ser o menos técnico possível, mostrando mais os benefícios para o negócio quando da adoção dessa tecnologia e espero que, quando voltarmos para apresentar a solução, nos deparemos com corações menos duros e mais propensos a escutar sobre um assunto que não é uma modinha, como já ouvi falarem por aí. É uma tecnologia que está em amplo crescimento, e pelas estimativas do Gartner, em 2023 até 90% das redes WAN de empresas americanas terão algum nível de implementação deste tipo.

Nós, profissionais de TIC, estamos aqui estudando e nos aperfeiçoando sempre, para trazer soluções inovadoras e ajudar a agregar valor ao seu produto, criando diferenciação dentro de um mercado que está acostumado a fazer mais do mesmo. Estamos aqui para que você realize (o que você quiser).

Sobre o autor: Luiz Puppin é Head of Training Center na FiberX. Graduado em Tecnologia da Informação pela Unicarioca, Pós-graduado no MBA em Gestão de Serviços de Telecomunicações da UFF e Especialista em Comunicações Móveis pela UFF, Luiz é especialista em Segurança de Redes, BackBone de Transporte, MPLS, VPLS, MPLS-TE, VPWS, CGNAT, Borda BGP e IPv6. Luiz é Membro do Grupo Huawei MVE (Most Valued Engineer) do Fórum Global de Suporte, Membro do Grupo Huawei VIP do Fórum Latam de Suporte e Participante do Huawei PDAC (Product Documentation Advisory Committee).

Saiba mais sobre Telecomunicações e banda larga