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Tecnologia no agro: possibilidades são tão grandes quanto o mercado

Da contagem da colheita à documentação para exportação, existem inúmeras possibilidades para criarmos soluções altamente customizadas para o agronegócio. Confira alguns exemplos práticos de soluções desenvolvidas no Brasil.

Números recentes mostram que o agronegócio é um dos setores que mais cresce no Brasil. Só no ano passado, o setor registrou um crescimento de 15,1% –muito maior do que outras áreas da economia, como a indústria, que avançou somente 1,6%, e serviços, que ainda é o maior setor do PIB, mas avançou no ano passado apenas 2,4%. Mesmo sendo um dos mercados mais importantes, o setor ainda carece de soluções desenvolvidas para as necessidades do campo.

De acordo com a Febraban, o surgimento de agritechs aumentou de 1.703 empresas para 1.953 no país ano passado, uma diferença de 15%. Desse número, 170 empresas são focadas em sistemas de gestão de propriedade rural; 146 são integradoras de sistemas, soluções e dados; e outras 37 são voltadas para telemetria e automação –no total, 19% dessas startups estão investindo em programas para a gestão no campo. Para um mercado desse tamanho ainda temos muito espaço para o desenvolvimento de soluções que façam sentido à realidade brasileira.

Da contagem da colheita à documentação para exportação, existem inúmeras possibilidades para criarmos soluções altamente customizadas para o agronegócio. Para exemplificar, quero dar alguns exemplos práticos de soluções desenvolvidas aqui no Brasil para problemas comuns do agronegócio global.

Produtividade da laranja: produção contabilizada por app

Uma das maiores empresas de agronegócios do Brasil –com foco na produção de laranja– precisava resolver um problema crucial: quantificar, da forma mais exata possível, o volume da colheita de laranja feita por cada trabalhador no campo – nessas épocas, mais de mil pessoas são recrutadas sazonalmente.

Antes de digitalizar o processo, a contabilização da colheita da laranja funcionava da seguinte forma: o trabalhador chegava no final do dia e mostrava para o supervisor a quantidade de sacos de laranja que ele encheu durante o período trabalhado. Com base na experiência, e de forma totalmente empírica, o supervisor estimava então o peso total dos sacos colhidos, e era a informação usada para fazer o pagamento final ao trabalhador. Em suma: havia casos em que o trabalhador recebia a mais e outros em que o pagamento era menor.

Para resolver essa questão, essa empresa desenvolveu, junto a uma fábrica de software, um aplicativo via celular e integrado a uma balança acoplada ao trator que faz o içamento dos sacos ao final do dia. O software recebe o peso e envia a informação para o aplicativo mobile do supervisor – que confere os dados e a associação com o trabalhador correto –e pronto, todo o cálculo de pagamento foi automatizado e é realizado de forma exata – sem estimativas que possam gerar prejuízo à empresa ou aos próprios trabalhadores.

Com a implementação do aplicativo, houve uma correção em 27% dos processos de pagamento –se pensarmos em um montante de 1.200 trabalhadores, por exemplo, estamos falando em 324 pessoas que recebiam o valor errado– para mais ou para menos.

Isso também levou a empresa a implementar um controle de gestão dos talhões, com o reconhecimento facial do trabalhador logo pela manhã, na atribuição das áreas em que será feita a colheita. Na prática, o app passou a funcionar como um controle de ponto no campo, evitando casos que podem ocorrer quando há falta de controle, como fraude no processo de mão de obra.

Rastreabilidade da laranja para controle da colheita

Uma outra aplicação que a tecnologia pode auxiliar de maneira bastante assertiva é na rastreabilidade da colheita. Novamente, vou citar um caso aqui que envolve a produção de laranja. Um produtor grande, com várias fazendas no Brasil, precisava fazer a rastreabilidade da origem do fruto –mostrando para o seu cliente final a data da colheita e a origem do produto.

A solução para resolver o problema foi desenvolver um aplicativo de rastreabilidade –com a mesma função de um blockchain, ou seja, as informações vão sendo capturadas durante o processo produtivo e não podem ser alteradas depois.

Uma vez que a exportação da laranja é feita para a Europa, por exemplo, onde há uma legislação bem estruturada sobre origem desse tipo de matéria-prima, o produtor consegue, rapidamente, rastrear a origem da produção –inclusive de qual fazenda o produto foi colhido– fornecendo documentações importantes, como certificados que atestam que a empresa não faz desmatamento, ou que não tem mão-de-obra escrava. Ou seja, o produtor nacional consegue exportar o seu produto oferecendo ao comprador informações essenciais da cadeia de produção.

Apoio no processo de exportação

Por último, cito aqui um caso que envolve a documentação para os processos de exportação da produção agrícola –também de uma empresa produtora de laranja que está entre as maiores do Brasil.

Sabemos que o processo de exportação de qualquer produto é uma operação extremamente complexa– além do Brasil ter muitas regras, os mercados da Europa, Estados Unidos e Ásia são extremamente regulados, ainda mais quando se trata de produção agrícola.

Neste caso, a empresa desenvolveu um sistema, conectado ao Ministério da Agricultura, e que permite centralizar toda a documentação de exportação da produção, envolvendo documentos regulatórios referentes à inspeção sanitária do produto. Ou seja, ao chegar no destino, e ao invés de ter um emaranhado de documentos físicos e confusos para apresentar, o exportador consegue apresentar a documentação completa rapidamente e desembaraçar a carga com mais velocidade.

Como vimos, o Brasil já conta com tecnologia, expertise e conhecimento para trazer aos produtores, tecnologia para transformar o agronegócio –desde a colheita, até a entrega do produto na ponta. Isso agrega à nossa produção agrícola, vetor essencial para a nossa economia, uma camada de dados importantíssima atualmente, em que temas como mudanças climáticas e condições dignas de trabalho são o foco não apenas de empresas preocupadas em cumprir a legislação, mas também de consumidores cada vez mais conscientes.

Sobre o autor: Marcos Roberto Pinotti é diretor de Engajamento da Kron Digital.

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