Seis tendências de tecnologia para 2021
A ampliação da conectividade para todos com 5G e WiFi6, o uso generalizado de sensores, aplicações ágeis e resilientes, melhores experiências do cliente, a adoção de confiança zero e o modelo de pagamento por consumo serão chaves neste ano, segundo a Cisco.
Seis tendências de tecnologia para 2021
A ampliação da conectividade para todos com 5G e WiFi6, o uso generalizado de sensores, aplicações ágeis e resilientes, melhores experiências do cliente, a adoção de confiança zero e o modelo de pagamento por consumo serão chaves neste ano, segundo a Cisco.
Max Tremp, Cisco América Latina
2020 foi o ano que colocou a todos nós em nossas casas e nos forçou, desde juntas diretoras de negócios a governos, a mudar os modelos de negócio e atenção cidadã da noite para o dia. A transformação digital deixou de ser algo "bom de se ter" para se tornar uma necessidade para sobreviver.
Os governos tiveram que suavizar a legislação para poder operar no modo virtual, aprender a legislar e acompanhar processos judiciais online. Os hospitais adotaram a telemedicina, modificando as ofertas existentes para se adaptar à experiência de pacientes não acostumados a lidar com tecnologia. As escolas mudaram seu currículo para ser eficazes no confinamento.
Além disso, as empresas de logística tiveram que passar dos modelos B2B para B2C, e as empresas em geral tiveram que viabilizar o comércio eletrônico, o marketing digital e a omnicanalidade, entre outras estratégias digitais. A experiência do usuário se converteu NO fator de sucesso.
Em suma, a transformação digital na América Latina, bem como as tecnologias que a permitem, se aceleraram. Aqui compartilhamos seis tendências que consideramos cruciais para 2021 e para o futuro.
1. Fechar a brecha digital
A conectividade segura permitiu dar continuidade a milhares de negócios, levar educação para as casas dos alunos, e a especialistas remotos assessorar sites de manufatura com realidade aumentada. Talvez o mais relevante, de São Paulo passando por Guayaquil até a Cidade do México, é que foram criados serviços de telemedicina e hospitais móveis para atender a emergência.
Isso se houvesse conectividade. Embora mais de 70% da população em áreas urbanas conte com acesso à Internet, o Banco Mundial estima que apenas 37% da população em áreas rurais da América Latina tem acesso. Isso fez a exclusão digital aumentar, deixando fora da economia digital as pessoas mais necessitadas.
Por isso, tecnologias como 5G e WiFi 6 ganham mais relevância para poder levar banda larga a lugares onde implementar fibra óptica tem um custo proibitivo. A PwC estima que levar a internet para pessoas que ainda não estão conectadas poderia adicionar US$6,7 bilhões de dólares à economia global e tirar 500 milhões de pessoas da pobreza.
5G e WiFi 6 são tecnologias complementares; a primeira está melhor posicionada para áreas abertas e banda larga ampla fixa, enquanto que a segunda se ajusta melhor a fábricas, estádios, centros de convenções, hotspots, etc. Embora já haja alguns pilotosde 5G na região, ainda nos falta terminar de tirar proveito do 4G e a evolução para o 5G será gradual e irá demorar um pouco. Por outro lado, o WiFi 6 já está disponível no mercado e para ampliar a sua cobertura basta abrir a banda de 6 Ghz. No continente, Estados Unidos e Chile já liberaram o espectro, enquanto Argentina, Brasil, Canadá, Costa Rica, Colômbia, México e Peru estão em processo de consulta e se espera que tomem suas decisões nos próximos meses.
2. Promover a experiência (e segurança) com sensores
Embora os sensores digitais sejam utilizados faz tempo na manufatura e outras indústrias, a proliferação de sensores mais próximo ao usuário em celulares, computadores, portáteis, câmeras, etc. É inegável. Veremos os sensores de saúde para os consumidores avançarem para grau médico, ajudando a desagregação de serviços de saúde; o mundo do esporte usará sensores, tanto para a proteção dos atletas quanto para dar mais dramaticidade ao espetáculo; os sensores de fadiga tornarão cidades como Santiago e México mais seguras.
Para as pessoas retornando ao seu local de trabalho, análise baseada em dados de sensores nos ajudará a ter ambientes mais seguros, saudáveis e produtivos. Câmaras com analitics permitirão colocar filtros sanitários, combinando-os com serviços de localização wireless e plataformas colaborativas é possível garantir que a capacidade das áreas comuns não fique saturada ou subutilizada, e, ao mesmo tempo, monitorar temperatura, umidade, qualidade do ar, luz e enviar recomendações proativas.
De acordo com a Pesquisa Global Working Force da Cisco, 96% das empresas podem proporcionar um ambiente de trabalho melhor utilizando tecnologia para espaços de trabalho inteligentes.
3. Aplicativos habilitados com agilidade e resiliência, as chaves para o futuro
As restrições durante os primeiros meses da pandemia obrigaram as organizações a se adaptar rapidamente. Utilizar tecnologias de nuvem ajudou a criar esta agilidade empresarial, embora tenhamos percebido um aumento no tráfego web sem criptografia; a velocidade criou brechas de segurança. Para empresas médias e pequenas isso representou ter acesso a tecnologias geralmente reservadas aos orçamentos das grandes empresas.
Após alguns meses, as aplicações empresariais críticas para o negócio haviam se convertido em monstros desagregados e altamente distribuídos, difíceis de manter e regular. Um excesso de informações que complicava conectar a tecnologia com as suas implicações no negócio, que provinha tanto dos funcionários quanto dos clientes, mais móveis e remotos.
Isso cria uma necessidade de fazer sentido dos dados e do negócio. Veremos então uma adoção de tecnologias com inteligência artificial que apoiem a transição do monitoramento tradicional para a assistência para a correlação de dados e métricas de negócios, buscando manter as aplicações ágeis. De acordo com os dados do relatório Cisco 2020 Global Networking Trends, 75% dos CIOs querem ter análises melhores de seus negócios a nível global, e na América Latina este número chega a 82% nos seis maiores países.
4. Da experiência do cliente ao entusiasmo pela marca
O crescimento explosivo de celulares e dispositivos inteligentes tem transformado nossa maneira de interagir com o mundo. Os aplicativos móveis estão disponíveis para fazer compras, banco, aprendizagem e saúde pessoal. Recentemente, eles têm sido utilizados como sensores para detectar surtos de infecções e a evolução da pandemia. Tanto o setor público quanto o privado têm encontrado nos aplicativos móveis uma forma de se conectar com seus usuários que não poderíamos ter imaginado faz alguns anos. Hoje muitos processos de negócios também estão sendo executados nesses aplicativos.
Em um mundo onde o aplicativo de seus concorrentes está a um clique de distância, as empresas querem que sua tecnologia seja impecável. Os aplicativos mais avançados possibilitam um relacionamento mais personalizado e com tempo maior de atenção. Isso requer a capacidade de converter montanhas de informações em tempo real, provenientes da rede, em revelações acionáveis em tempo recorde. As empresas que atingirem essa capacidade conseguirão passar da automação para ações proativas que surpreendam seus clientes com soluções antes que aconteçam os problemas. Esta combinação de uma personalização inteligente e imersiva é o que transformará a experiência de satisfação do cliente em uma relação profunda, ativa, emocionante e, sobretudo, leal.
No último ano, foram formados de norte a sul diversos grupos de empreendedores buscando compartilhar conhecimento e melhores práticas para alcançar a transformação digital de suas empresas. Uma das estratégias, mencionada entre as mais desejáveis e difíceis de implementar corretamente, é a omnicanalidade, inclusive por aqueles que já têm marketing digital. A utilização de centros de contato nascidos com a omnicanalidade e tecnologias digitais nativas, aprendizado de máquina e análise farão uma grande diferença contra quem simplesmente agregou a parte digital aos tradicionais canais de atendimento de voz.
"Deleitar o cliente é mais importante do que sua mera satisfação", opinam 80% dos CIOs dos seis países mais importantes da América Latina, segundo os números do "Cisco 2021 CIO and ITDM Trends Pulse Localized Data".
5. Identidade e um futuro sem senhas
A mobilidade, o trabalho distribuído e o uso de soluções na nuvem efetivamente têm trazido grandes benefícios para escalar. Mas, com isso, a zona de ataque também tem crescido: temos observado um aumento de 600% em ciberataques, com uma sofisticação nunca vista antes. Se isso trouxe algo bom para a América Latina é que finalmente chamou a atenção de diretores gerais, financeiros e diretores de risco e a segurança está sendo discutida no conselho de diretores, não apenas no departamento de TI.
Ataques recentes como Astaroth - projetado para atacar cidadãos brasileiros e evitar sua detecção por equipes de inteligência cibernética, tanto públicas quanto privadas - compartilhar uma rede doméstica com sua família, e estar sozinho em casa, longe do departamento de TI, traz consigo grandes desafios para a segurança. As credenciais perdidas ou roubadas seguem sendo uma causa comum de sucesso nos ataques.
Já não existe um castelo a defender com uma ponte e um fosso (o firewall). O perímetro da empresa foi perdido; o novo perímetro é a identidade. Para contrapor isso surgiu a confiança zero, não confiar em nada nem em ninguém, assim como o SASE uma arquitetura que converge a rede (SD-WAN) com a nuvem e a segurança.
Tanto plataformas como grupos da indústria e fornecedores de segurança estão trabalhando para um futuro livre de senhas, onde as tecnologias biométricas têm um papel fundamental. As empresas terão de trabalhar em direção a esta mudança de paradigma e fazê-lo de forma segura, resguardando não só a segurança como a privacidade dos dados biométricos; que estes sejam mantidos nos dispositivos pertinentes, sem transmitir informação sensível pela rede, ainda que criptografada.
Em 2020, 80% dos dispositivos móveis utilizados para trabalhar tinham biometria configurada, um aumento de 12% nos últimos 5 anos (2020 Duo Trusted Access Report). Adicionalmente, de acordo com o Estudo de Resultados de Segurança 2021 da Cisco, 39% dos entrevistados disseram estar "de acordo" com a confiança zero, enquanto que outros 38% disseram " estar trabalhando nesta direção ".
6. Modelos de consumo para as tecnologias que realmente precisam
Por muito tempo, havia apenas uma maneira de consumir tecnologia, "the full enchilada ", quer dizer, se comprava o conjunto completo de funcionalidades do software, sem importar se eram utilizadas 90% ou 2%. Este modelo tem evoluído, especialmente com o software como serviço que permite às organizações pagar pelos recursos e funcionalidades que precisam no dia de hoje, com possibilidade de escalar facilmente para pacotes mais completos com grande agilidade e sob demanda.
Não importa se você usa um modelo em suas instalações ou na nuvem, a cada dia há opções mais flexíveis de licenciamento para serviço, contratos de negócios "pague-conforme-consome" e não se está preso em licenças perpétuas em um modelo de CAPEX.
Essa mudança no pagamento por consumo permite prever os custos mais facilmente e gerenciar melhor o gasto com tecnologias de informação. 95% dos CIO brasileiros e 94% dos mexicanos estão de acordo que é importante para as suas empresas, segundo os resultados do "Cisco 2021 CIO and IT Decision Makers Trends Pulse”.
Sobre o autor: Max Tremp é Diretor de Engenharia da Cisco América Latina.