Guido Vrola - Fotolia
O 5G e as novas oportunidades para a indústria de telecomunicações
A indústria brasileira de telecomunicações tem no OpenRAN, no FWA e no IoT, grandes oportunidades de investimento, devendo estar atenta às aplicações que se encontram latentes, fazendo uso de plataformas e tecnologias existentes.
A inovação que o 5G traz para as aplicações profissionais é um forte impulso para a indústria brasileira de telecomunicações. As principais oportunidades no país estão no OpenRAN, internet das coisas (IoT) e FWA.
Diversos segmentos da economia têm acesso a uma multiplicidade de componentes e plataformas de automação e controle, porém a sua dinâmica de aplicação extensiva e de retorno depende fundamentalmente da conectividade, habilitada por redes cabeadas ou sem fio. Muitas aplicações podem ser realizadas com as tecnologias ora existentes, porém a chegada do 5G habilita novas funcionalidades e oportunidades, graças à elevada capacidade de transmissão, altíssimo volume de dispositivos conectados e reduzida latência, que são característicos do 5G.
Apesar da cautela necessária para a implementação em larga escala, seja pela indisponibilidade de algumas funcionalidades, como pelas considerações associadas à arquitetura de rede em si, o OpenRAN (arquitetura aberta e interoperável para redes de acesso em rádio) tem potencial de reduzir o custo total de propriedade (TCO) para as operadoras e provedores regionais. Cerca de 1% das redes globais usam esse tipo de arquitetura de tecnologia, mas nos próximos anos ela deve se expandir e chegar até a 10% de uso.
Um relatório da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre os sistemas OpenRAN, em parceria com a Universidade de Brasília (UNB), mostra que o investimento é baixo e traz retorno palpável: a cada R$ 1 investido na implementação do OpenRAN em redes de telecomunicações, o retorno é bem próximo ao dobro, comparativamente a soluções tradicionais. Há de se considerar algumas simplificações de rede, que entretanto irão refletir a real demanda de segmentos específicos, o que é fundamental para uma indústria que está cada vez mais preocupada com a sustentabilidade e o uso racional dos recursos.
Já o IoT, possui uma história de aplicações mais longeva, desde quando os primeiros dispositivos M2M foram disponibilizados nas “maquininhas de cartão”. De acordo com dados da Oracle baseados em análises de especialistas, hoje são cerca de 7 bilhões de dispositivos IoT conectados, sendo que esse número deve chegar a 22 bilhões até 2025.
O conceito em si da internet das coisas é muito simples, pois se refere aos meios que permitem conectar coisas e lugares à internet. São sensores, atuadores, uma infinidade de sistemas embarcados e conectados com segurança, protocolos e interoperabilidade em redes. Tanto os hardwares associados, como os softwares de comissionamento digital e de comunicação são elementos que podem alavancar de forma única a indústria nacional, uma vez que eles podem e devem ser pensados em termos de aplicações segmentadas para cada indústria e setor da economia.
Muitas aplicações demandadas pelo mercado partem do conceito de que “os dados são o novo petróleo”, a partir da incorporação de sistemas de “big data & analytics” e “machine learning”, que permitem analisar e produzir informações de alta relevância através dos dados coletados por estes sensores conectados em nuvem. Essa tecnologia permite visibilidade de indicadores de desempenho, estatísticas do tempo médio entre falhas e outras informações operacionais relevantes para todos os segmentos da indústria, agregando eficiência e previsibilidade em processos, impactando na melhoria contínua da gestão.
Toda esta capacidade computacional e com as ideias associadas à internet dos sentidos (um dos adjetivos dados às futuras redes 6G), a incorporação de sistemas de inteligência artificial aos dispositivos e plataformas IoT, abre uma nova era que tem sido denominada AIoT (inteligência artificial + internet das coisas). Em telecomunicações, os componentes de rede possuem cada vez mais “inteligência embarcada”, o que tem aberto uma série de oportunidades para a gestão e otimização destas, conforme vimos no último MWC de Barcelona. No uso doméstico, vemos a incorporação de linguagem natural em assistentes pessoais, como Alexa, Cortana e Siri. No segmento industrial, os principais usos são fabricação inteligente, manutenção preventiva e preditiva, redes de energia inteligentes, cidades inteligentes, logística conectada e cadeias de suprimentos digitais.
Para completar a lista de oportunidades para as telecomunicações, a tecnologia FWA ou Acesso Fixo sem Fio (do inglês Fixed Wireless Access) tem grande potencial para ser uma das mais importantes soluções para ampliar o acesso da população à internet de quinta geração e, consequentemente, agregar avanços para empresas e serviços. É uma das aplicações mais bem-sucedidas do 5G e tem tido destaque no exterior em países como Estados Unidos, algumas áreas da Ásia e México. O Acesso Fixo sem Fio pode fornecer velocidade com fibra após a implantação do espectro e pode ser usado em indústrias como internet de veículos, internet industrial, telemedicina, educação inteligente, vídeo de alta definição, cidades inteligentes e entretenimento doméstico.
Outra característica do FWA é sua integração a outros tipos de acessos e terminais da indústria como VR, AR, Câmeras IP, máquinas de transmissão ao vivo, AGVs, drones e robôs. Por ter um leque grande de aplicações, o FWA é visto como uma das formas mais concretas de oportunidades de negócios para a indústria de telecomunicações. Sua adoção no Brasil, irá passar pela revisão de alguns conceitos técnico-regulatórios e a quebra de alguns paradigmas operacionais, uma vez que a palavra de ordem será o provimento de serviços customizados ao invés de massificados.
Portanto, a indústria brasileira de telecomunicações tem no OpenRAN, no FWA e no IoT, grandes oportunidades de investimento e fortalecimento de nossa capacidade local de P&D e produção, devendo estar atenta às aplicações que se encontram latentes, fazendo uso de plataformas e tecnologias existentes, sem a necessidade de “reinvenção da roda”.
Sobre o autor: Hermano Pinto é diretor do portfólio de Tecnologia e Infraestrutura da Informa Markets, responsável pelo Futurecom, maior evento de tecnologia, telecomunicações e transformação digital da América Latina.